VISTA ORTOGONAL


A Geometria Descritiva foi reconhecida como um importante sistema de representação no final do século XIX, quando passou a ser utilizada no desenvolvimento de tecnologias industriais e na Engenharia. O projeto, por meio de vistas ortogonais, ganha status de documento e exige uma linguagem padronizada, de interpretação única.

No entanto, desde a Antiguidade se tem registro do uso das vistas ortogonais, na representação arquitetônica, de forma não sistematizada. No tratado "De Architettura Libri Decem", de Vitrúvio, redescoberto reeditado no Renascimento, contém vários desenhos que utilizam o princípio das projeções ortogonais, assim como nos tratados renascentistas.

                  Representação de Basílica. De Architectura Libri Decem, Vitrúvio. Reedição de 1521, desenho de Cesar Cesariano.

                                                      Fonte: disponível em https://www.dboverijssel.nl/archieven/5173.


Essa teoria desenvolvida por Gaspard Monge é proveniente do contexto histórico do Iluminismo. De acordo com Monge (1799), o objetivo da Geometria Descritiva consiste em estabelecer métodos que permitam a representação de objetos que possuem altura, largura e profundidade em um papel de desenho. O que ele propõe é que situações espaciais possam ser expressas por meio de representações planas que tenham a propriedade de definir um objeto, suas medidas e formas. Deve-se alcançar o nível de abstração no qual, ao visualizar as representações planas (vistas ortogonais) desse objeto, consiga-se imaginar e executar sua perspectiva e vice-versa (PANISSON, 2007).

Um desenho por projeções ortogonais é um desenho descritivo, visto que exige um conhecimento das peculiaridades do método para fazer uma interpretação correta (PINHEIRO, 1970). O sistema de projeção cilíndrico ortogonal engloba as vistas ortogonais e as perspectivas axonométricas (isométrica, dimétrica e trimétrica). Essa parte da pesquisa em tela tem seu foco nas vistas ortogonais.

O conjunto formado pelos planos de projeção denomina-se sistema mongeano de projeção. A interseção do plano horizontal e vertical de projeção é chamada de linha de terra. As quatro regiões formadas pelos planos são denominadas diedros. No Brasil o diedro mais utilizado é o primeiro.

Sistema Mongeano

Créditos da imagem: REIS, Luiz Fernando. Notas de aula. DAU - UFV, 2007.

Projeção ortogonal é a representação gráfica de um objeto no espaço sobre planos de projeção. Pelo processo da dupla projeção sistematizado por Monge determinamos duas projeções de um objeto, isto é, duas vistas ortogonais. Imaginamos o objeto no primeiro diedro e as projetantes ortogonais passando por este, encontrando os planos de projeção. Posteriormente fazemos o rebatimento do plano horizontal sobre o plano vertical, obtendo assim a épura do objeto que apresenta a vista frontal (ou vista de frente), que mostra o comprimento e a altura do sólido; a vista superior (ou vista de cima) que apresenta comprimento e largura do mesmo.

           Projeções do objeto e rebatimento do plano de projeção 

                                   Épura

                                                                           Crédito da imagem: CRUZ;A MARAL, 2012, p. 8.

No entanto, sólidos distintos podem apresentar duas vistas ortogonais semelhantes. Portanto, geralmente optamos por fazer uma terceira vista ortogonal em um plano denominado plano de perfil.

1. Sólido no primeiro diedro e suas vistas ortogonais sendo projetadas nos planos. 2. Rebatimento. 3. Épura.

Crédito da imagem: RIBEIRO et al., p.14.

Quando precisamos fazer as vistas ortográficas de um objeto ou edificação complexa, podemos utilizar um processo denominado sólido envolvente. Ao inserir um objeto ou edificação dentro de um cubo transparente no primeiro diedro, é possível imaginarmos suas projeções nas faces desse cubo, essas passariam a ser os planos de projeção. Após o rebatimento obteríamos seis vistas do objeto. Vista frontal, vista superior, vista lateral esquerda, vista lateral direita, vista inferior, vista posterior (REIS; BARRETO, 2007). 

As vistas ortogonais são adotadas no projeto de Arquitetura. A planta baixa, planta de cobertura, planta de situação, cortes e fachadas são vistas ortográficas.

O GPDTEC estudou a Vila Savoye, obra do arquiteto Le Corbusier e, após as oficinas descritas nesse site, elaboraram maquetes eletrônicas e animações no software Sketchup. Cada animação mostra as linhas ortogonais passando pela edificação, formando 90º com o plano de projeção, dando origem à representação plana (vista ortogonal) de uma de suas faces. 

Na animação abaixo  a representação plana resultante é a vista de frente, também denominada fachada frontal.

   Obs: Recomendamos assistir as animações em 720 HD.

No exemplo a seguir, a representação plana resultante é a vista posterior da Vila Savoye, também denominada de fachada posterior. 

   Obs: Recomendamos assistir as animações em 720 HD. 

   Obs: Recomendamos assistir as animações em 720 HD. 

   Obs: Recomendamos assistir as animações em 720 HD. 

Observação: Esse texto é parte da dissertação cuja a referência é MARQUES, Janaina Carneiro. O Ensino do Desenho Técnico mediado pela História da Arquitetura, Matemática e Computação Gráfica. Programa de Pós Graduação em Educação em Ciências e Matemática. Vitória: Ifes, 2016.

Bibliografia:

CRUZ, Dennis Coelho; AMARAL, Luiz Gustavo Henriques. Apostila de Geometria Descritiva. Universidade Federal da Bahia: Barreiras, 2012. Disponível em:  https://www2.fsanet.com.br/Professor/Material/Material-de-Apoio/Thais-Rodrigues-Ibiapina/ Bacharelado-em-Engenharia-Civil/Geometria-Descritiva/Apostila-de-Geometria -Descritiva-2012.1.pdf

MONTENEGRO, Gildo A. Desenho Arquitetônico. São Paulo: Edgard Blucher, 2001.

PANISSON, Eliane. Gaspar Monge e a sistematização da representação gráfica na arquitetura. 2007. Tese (doutorado em arquitetura) - Programa de Pesquisa e Pós-Graduação em Arquitetura, UFRGS: Porto Alegre, 2007.

PINHEIRO, Virgílio Athayde. Noções de Geometria Descritiva. Ao livro Técnico: Rio de Janeiro, 1970.

REIS, Luiz Fernando; BARRETO, Emmanoel Moraes. Notas de aula de Desenho Técnico e Desenho Arquitetônico. Departamento de Arquitetura e Urbanismo (DAU). Setor de Representação Gráfica e Tecnologia. Viçosa: Universidade Federal de Viçosa, 2007.

REIS, Luiz Fernando; BARRETO, Emmanoel Moraes. Notas de aula de Geometria Descritiva. Departamento de Arquitetura e Urbanismo (DAU). Setor de Representação Gráfica e Tecnologia. Viçosa: Universidade Federal de Viçosa, 2007.

RIBEIRO, Clelio Antonio; PERES, Mauro Pedro; IZIDORO, Nacir. Apostila de desenho técnico mecânico. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo, 2011.


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